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A Igreja e as inquietudes do homem
61. A Igreja tem o firme propósito de responder à inquietude do homem
contemporâneo, marcado por duras opressões e desejoso de liberdade. A gestão
política e econômica da sociedade não entra diretamente na sua missão. Mas
o Senhor Jesus confiou-lhe a palavra da verdade, capaz de iluminar as
consciências. O amor divino, que é a sua vida, leva-a a se fazer realmente
solidária com cada homem que sofre. Se seus membros permanecerem fiéis a essa
missão, o Espírito Santo, fonte de liberdade, habitará neles e produzirão
frutos de justiça e de paz em seu ambiente familiar, profissional e social.
I. Pela salvação integral do mundo
As Bem-aventuranças e a força do Evangelho
62. O Evangelho é força da vida eterna, dada desde agora àqueles que o
acolhem. Mas, ao gerar homens novos, essa força penetra na comunidade
humana e na sua história, purificando e vivificando, assim, as suas atividades.
Por isso, ela é « raiz de cultura ».
As Bem-aventuranças proclamadas por Jesus exprimem a perfeição do amor
evangélico. Elas não cessaram de ser vividas, ao longo da história da Igreja,
por numerosos batizados e, de uma maneira eminente, pelos santos.
As Bem-aventuranças, a partir da primeira, a dos pobres, formam um todo
que não deve ser separado do conjunto do Sermão da Montanha. Neste, Jesus,
novo Moisés, comenta o Decálogo, a Lei da Aliança, dando-lhe seu sentido
definitivo e pleno. Lidas e interpretadas na totalidade do seu contexto, as
Bem-aventuranças exprimem o espírito do Reino de Deus que vem. Mas, à luz do
destino definitivo da história humana assim manifestada, aparecem, ao mesmo
tempo, com uma mais viva clareza, os fundamentos da injustiça na ordem
temporal.
Pois, ao ensinar a confiança que se apoia em Deus, a esperança da vida
eterna, o amor da justiça, a misericórdia que chega até o perdão e a
reconciliação, as Bem-aventuranças permitem situar a ordem temporal em função
de uma ordem transcendente que, longe de eliminar sua própria consistência,
confere-lhe a sua verdadeira medida.
À luz das Bem-aventuranças, o necessário empenho nas tarefas temporais a
serviço do próximo e da comunidade dos homens é, ao mesmo tempo, exigido com
urgência e mantido na sua justa perspectiva. As Bem-aventuranças preservam da
idolatria dos bens terrestres e das injustiças que a sua busca desenfreada traz
consigo. Elas preservam da busca de um mundo perfeito, utópica e causadora
de ruína, pois « a figura deste mundo passa » (1 Cor 7, 31).
O anúncio da Salvação
63. A missão essencial da Igreja, prolongando a missão de Cristo, é uma
missão evangelizadora e salvífica. Ela encontra o seu élan na caridade
divina. A evangelização é o anúncio da salvação, dom de Deus. Pela palavra de
Deus e pelos sacramentos, o homem é libertado, antes de tudo, do poder do
pecado e do poder do Maligno que o oprimem, e é introduzido na comunhão de amor
com Deus. Nas pegadas do seu Senhor, « que veio ao mundo para salvar os
pecadores » (1 Tim1, 15), a Igreja deseja a salvação de todos os homens.
Nessa missão, a Igreja ensina o caminho que o homem deve percorrer neste
mundo, para entrar no Reino de Deus. Sua doutrina abrange, pois, toda a ordem
moral e, principalmente a justiça que deve regular as relações humanas. Tudo
isso faz parte da pregação do Evangelho.
Mas o amor que faz a Igreja comunicar a todos a participação gratuita na
vida divina, leva-a também, pela ação eficaz de seus membros, a buscar o
verdadeiro bem temporal dos homens, ir ao encontro de suas necessidades, prover
a sua cultura e promover uma libertação integral de tudo aquilo que impede o
desenvolvimento das pessoas. A Igreja quer o bem do homem em todas as suas
dimensões: em primeiro lugar, como membro de cidade de Deus; em seguida, como
membro da cidade terrestre.
Evangelização e promoção da justiça
64. Quando, pois, se pronuncia sobre a promoção da justiça nas
sociedades humanas, ou leva os seus fiéis leigos a nelas trabalharem segundo a
vocação própria deles, a Igreja não excede a sua missão. Ela toma cuidado, no
entanto, para que essa missão não seja absorvida pelas preocupações
concernentes a ordem temporal nem a estas últimas se reduza. Por isso, ela
presta grande atenção em manter, clara e firmemente, tanto a unidade como a
distinção entre evangelização e promoção humana: unidade, porque ela busca o
bem do homem todo; distinção, porque essas duas tarefas, sob títulos diversos,
integram a sua missão.
Evangelho e realidades terrestres
65. Procurando, pois, realizar a sua finalidade própria é que a Igreja
ilumina, com a luz do Evangelho, as realidades terrestres, de modo que a pessoa
humana seja curada de suas misérias e elevada na sua dignidade. A coesão da
sociedade segundo a justiça e a paz é, assim, promovida e reforçada. Por
isso mesmo, a Igreja é fiel à sua missão quando denuncia os desvios, as
servidões e as opressões de que os homens são vítimas.
Ela é fiel à sua missão quando se opõe às tentativas de instauração de
uma forma de vida social da qual Deus esteja ausente, seja por uma oposição consciente,
seja por uma negligência culposa.
Por fim, ela é fiel à sua missão quando exerce seu julgamento a respeito
de movimentos políticos que pretendem lutar contra a miséria e a opressão
segundo teorias e métodos de ação contrários ao Evangelho e opostos ao próprio
homem.
É verdade que a moral evangélica, com as energias da graça, traz ao
homem novas perspectivas e exigências novas. Mas ela vem aperfeiçoar e elevar
uma dimensão moral que já pertence à natureza humana e pela qual a Igreja se
preocupa, sabendo que tal dimensão constitui uma patrimônio que pertence a
todos os homens enquanto tais.
II. O amor preferencial pelos pobres
Jesus e a pobreza
66. Cristo Jesus, sendo rico, fez-se pobre para nos enriquecer por meio
de sua pobreza. São Paulo fala, aqui, do mistério da Encarnação
do Filho eterno, que veio assumir a natureza humana mortal para salvar o homem
da miséria na qual o pecado o tinha mergulhado. Mais ainda, na condição humana,
Cristo escolheu um estado de pobreza e de despojamento,96 a fim
de mostrar em que consiste a verdadeira riqueza a ser buscada, a da comunhão de
vida com Deus. Ele ensinou o desapego das riquezas da terra para que se deseje
as riquezas do céu.97 Os Apóstolos que escolheu também tiveram
que abandonar tudo e participar do seu despojamento.
Anunciado pelo Profeta como o Messias dos pobres, é entre eles, os
humildes, os « pobres de Javé » sedentos da justiça do Reino, que ele encontrou
corações capazes de acolhê-lo. Mas quis também estar perto daqueles que, mesmo
ricos dos bens deste mundo, eram excluídos da comunidade, como «publicanos e
pecadores », pois ele tinha vindo chamá-los à conversão.
É uma tal pobreza, feita de desapego, de confiança em Deus, de
sobriedade, da disposição à partilha, que Jesus declarou bem-aventurada.
Jesus e os pobres
67. Mas Jesus não trouxe apenas a graça e a paz de Deus; ele também
curou inúmeros enfermos; teve compaixão da multidão que não tinha o que comer,
alimentando-a; com os discípulos que o seguiam, praticou a esmola.. A
Bem-aventurança da pobreza que proclamou não significa, pois, absolutamente,
que os cristãos podem desinteressar-se dos pobres desprovidos do necessário à
vida humana neste mundo. Fruto e consequência do pecado dos homens e da sua
fragilidade natural, essa miséria é um mal de que é preciso, tanto quanto
possível, libertar os seres humanos.
O amor preferencial pelos pobres
68. Sob as suas múltiplas formas – extrema privação material, opressão
injusta, enfermidades físicas e psíquicas e, por fim, a morte – a miséria
humana é o sinal manifesto da condição nativa de fraqueza na qual o homem se
encontra após o primeiro pecado e da necessidade de uma salvação. É por isso
que ela atrai a compaixão de Cristo Salvador, que quis assumi-la sobre si,identificando-se
com os « mais pequeninos entre os seus irmãos » (Mt 25, 40. 45). É
também por isso que todos aqueles que ela atinge são objeto de um amor
preferencial por parte da Igreja que, desde as suas origens, apesar das falhas
de muitos dos seus membros, não deixou nunca de se esforçar por aliviá-los,
defendê-los e libertá-los. Ela o faz através de inúmeras obras de beneficência,
que continuam a ser, sempre e por toda a parte, indispensáveis. Depois,
através da sua doutrina social que se esforça por aplicar, ela procurou
promover mudanças estruturais na sociedade, a fim de se alcançar condições de
vida dignas da pessoa humana.
Pelo desapego das riquezas, que possibilita a partilha e abre ao Reino, os
discípulos de Jesus testemunham; através do amor aos pobres e aos infelizes, o
próprio amor do Pai, que se manifestou no Salvador. Esse amor vem de Deus e
leva a Deus. Os discípulos de Cristo sempre reconheceram nos dons depositados
sobre o altar um dom oferecido ao próprio Deus.
Amando os pobres, enfim, a Igreja testemunha a dignidade do homem. Ela
afirma claramente que este vale mais pelo que é do que pelo que possui. Ela
testemunha que essa dignidade não pode ser destruída, seja qual for a situação
de miséria, de desprezo, de rejeição e de impotência a que o homem foi
reduzido. Ela mostra-se solidária com aqueles que não contam para uma sociedade
da qual se veem espiritual e às vezes até mesmo fisicamente rejeitados. De modo
particular, a Igreja volta-se com afeto materno para os filhos que, por causa
da maldade humana, nunca virão à luz, como também para as pessoas idosas, sós
ou abandonadas.
A opção privilegiada pelos pobres, longe de ser um sinal de
particularismo ou de sectarismo, manifesta a universalidade do ser e da missão da
Igreja. Tal opção não é exclusiva nem excludente.
É por essa razão que a Igreja não pode exprimi-la com a ajuda de
categorias sociológicas e ideológicas redutoras, que fariam de tal preferência
uma opção partidária e de natureza conflitiva.
Comunidades de base e movimentos eclesiais
69. As novas comunidades de base e outros grupos de cristãos, formados
para serem testemunhas deste amor evangélico, são um motivo de grande esperança
para a Igreja. Se viverem verdadeiramente em unidade com a Igreja local e a
Igreja universal, serão uma autêntica expressão da comunhão e um meio de se
construir uma comunhão mais profunda. Serão fiéis à sua missão na medida
em que tiverem o cuidado de educar os seus membros na integralidade da fé
cristã, pela escuta da Palavra de Deus, pela fidelidade ao ensinamento do
Magistério, à ordem hierárquica da Igreja e à vida sacramental. Sob tais
condições, sua experiência, radicada em um empenho pela libertação integral do
homem, torna-se uma riqueza para a Igreja inteira.
A reflexão teológica
70. De maneira semelhante, uma reflexão teológica desenvolvida a partir
de uma experiência particular pode constituir uma contribuição muito positiva,
já que permite pôr em evidência aspectos da Palavra de Deus cuja riqueza total
ainda não tinha sido plenamente percebida. Mas para que tal reflexão seja
verdadeiramente uma leitura da Escritura e não uma projeção sobre a Palavra de
Deus de um sentido que ela não contém, o teólogo estará atento a interpretar a
experiência, da qual ele parte, à luz da tradição e da experiência da própria
Igreja. Essa experiência da Igreja brilha, com uma luminosidade singular e em
toda a sua pureza, na vida dos santos. Compete aos Pastores da Igreja, em
comunhão com o Sucessor de Pedro, discernir a autenticidade de tais
experiências.
A Igreja e as inquietudes do homem
61. A Igreja tem o firme propósito de responder à inquietude do homem
contemporâneo, marcado por duras opressões e desejoso de liberdade. A gestão
política e econômica da sociedade não entra diretamente na sua missão. Mas
o Senhor Jesus confiou-lhe a palavra da verdade, capaz de iluminar as
consciências. O amor divino, que é a sua vida, leva-a a se fazer realmente
solidária com cada homem que sofre. Se seus membros permanecerem fiéis a essa
missão, o Espírito Santo, fonte de liberdade, habitará neles e produzirão
frutos de justiça e de paz em seu ambiente familiar, profissional e social.
I. Pela salvação integral do mundo
As Bem-aventuranças e a força do Evangelho
62. O Evangelho é força da vida eterna, dada desde agora àqueles que o
acolhem. Mas, ao gerar homens novos, essa força penetra na comunidade
humana e na sua história, purificando e vivificando, assim, as suas atividades.
Por isso, ela é « raiz de cultura ».
As Bem-aventuranças proclamadas por Jesus exprimem a perfeição do amor
evangélico. Elas não cessaram de ser vividas, ao longo da história da Igreja,
por numerosos batizados e, de uma maneira eminente, pelos santos.
As Bem-aventuranças, a partir da primeira, a dos pobres, formam um todo
que não deve ser separado do conjunto do Sermão da Montanha. Neste, Jesus,
novo Moisés, comenta o Decálogo, a Lei da Aliança, dando-lhe seu sentido
definitivo e pleno. Lidas e interpretadas na totalidade do seu contexto, as
Bem-aventuranças exprimem o espírito do Reino de Deus que vem. Mas, à luz do
destino definitivo da história humana assim manifestada, aparecem, ao mesmo
tempo, com uma mais viva clareza, os fundamentos da injustiça na ordem
temporal.
Pois, ao ensinar a confiança que se apoia em Deus, a esperança da vida
eterna, o amor da justiça, a misericórdia que chega até o perdão e a
reconciliação, as Bem-aventuranças permitem situar a ordem temporal em função
de uma ordem transcendente que, longe de eliminar sua própria consistência,
confere-lhe a sua verdadeira medida.
À luz das Bem-aventuranças, o necessário empenho nas tarefas temporais a
serviço do próximo e da comunidade dos homens é, ao mesmo tempo, exigido com
urgência e mantido na sua justa perspectiva. As Bem-aventuranças preservam da
idolatria dos bens terrestres e das injustiças que a sua busca desenfreada traz
consigo. Elas preservam da busca de um mundo perfeito, utópica e causadora
de ruína, pois « a figura deste mundo passa » (1 Cor 7, 31).
O anúncio da Salvação
63. A missão essencial da Igreja, prolongando a missão de Cristo, é uma
missão evangelizadora e salvífica. Ela encontra o seu élan na caridade
divina. A evangelização é o anúncio da salvação, dom de Deus. Pela palavra de
Deus e pelos sacramentos, o homem é libertado, antes de tudo, do poder do
pecado e do poder do Maligno que o oprimem, e é introduzido na comunhão de amor
com Deus. Nas pegadas do seu Senhor, « que veio ao mundo para salvar os
pecadores » (1 Tim1, 15), a Igreja deseja a salvação de todos os homens.
Nessa missão, a Igreja ensina o caminho que o homem deve percorrer neste
mundo, para entrar no Reino de Deus. Sua doutrina abrange, pois, toda a ordem
moral e, principalmente a justiça que deve regular as relações humanas. Tudo
isso faz parte da pregação do Evangelho.
Mas o amor que faz a Igreja comunicar a todos a participação gratuita na
vida divina, leva-a também, pela ação eficaz de seus membros, a buscar o
verdadeiro bem temporal dos homens, ir ao encontro de suas necessidades, prover
a sua cultura e promover uma libertação integral de tudo aquilo que impede o
desenvolvimento das pessoas. A Igreja quer o bem do homem em todas as suas
dimensões: em primeiro lugar, como membro de cidade de Deus; em seguida, como
membro da cidade terrestre.
Evangelização e promoção da justiça
64. Quando, pois, se pronuncia sobre a promoção da justiça nas
sociedades humanas, ou leva os seus fiéis leigos a nelas trabalharem segundo a
vocação própria deles, a Igreja não excede a sua missão. Ela toma cuidado, no
entanto, para que essa missão não seja absorvida pelas preocupações
concernentes a ordem temporal nem a estas últimas se reduza. Por isso, ela
presta grande atenção em manter, clara e firmemente, tanto a unidade como a
distinção entre evangelização e promoção humana: unidade, porque ela busca o
bem do homem todo; distinção, porque essas duas tarefas, sob títulos diversos,
integram a sua missão.
Evangelho e realidades terrestres
65. Procurando, pois, realizar a sua finalidade própria é que a Igreja
ilumina, com a luz do Evangelho, as realidades terrestres, de modo que a pessoa
humana seja curada de suas misérias e elevada na sua dignidade. A coesão da
sociedade segundo a justiça e a paz é, assim, promovida e reforçada. Por
isso mesmo, a Igreja é fiel à sua missão quando denuncia os desvios, as
servidões e as opressões de que os homens são vítimas.
Ela é fiel à sua missão quando se opõe às tentativas de instauração de
uma forma de vida social da qual Deus esteja ausente, seja por uma oposição consciente,
seja por uma negligência culposa.
Por fim, ela é fiel à sua missão quando exerce seu julgamento a respeito
de movimentos políticos que pretendem lutar contra a miséria e a opressão
segundo teorias e métodos de ação contrários ao Evangelho e opostos ao próprio
homem.
É verdade que a moral evangélica, com as energias da graça, traz ao
homem novas perspectivas e exigências novas. Mas ela vem aperfeiçoar e elevar
uma dimensão moral que já pertence à natureza humana e pela qual a Igreja se
preocupa, sabendo que tal dimensão constitui uma patrimônio que pertence a
todos os homens enquanto tais.
II. O amor preferencial pelos pobres
Jesus e a pobreza
66. Cristo Jesus, sendo rico, fez-se pobre para nos enriquecer por meio
de sua pobreza. São Paulo fala, aqui, do mistério da Encarnação
do Filho eterno, que veio assumir a natureza humana mortal para salvar o homem
da miséria na qual o pecado o tinha mergulhado. Mais ainda, na condição humana,
Cristo escolheu um estado de pobreza e de despojamento,96 a fim
de mostrar em que consiste a verdadeira riqueza a ser buscada, a da comunhão de
vida com Deus. Ele ensinou o desapego das riquezas da terra para que se deseje
as riquezas do céu.97 Os Apóstolos que escolheu também tiveram
que abandonar tudo e participar do seu despojamento.
Anunciado pelo Profeta como o Messias dos pobres, é entre eles, os
humildes, os « pobres de Javé » sedentos da justiça do Reino, que ele encontrou
corações capazes de acolhê-lo. Mas quis também estar perto daqueles que, mesmo
ricos dos bens deste mundo, eram excluídos da comunidade, como «publicanos e
pecadores », pois ele tinha vindo chamá-los à conversão.
É uma tal pobreza, feita de desapego, de confiança em Deus, de
sobriedade, da disposição à partilha, que Jesus declarou bem-aventurada.
Jesus e os pobres
67. Mas Jesus não trouxe apenas a graça e a paz de Deus; ele também
curou inúmeros enfermos; teve compaixão da multidão que não tinha o que comer,
alimentando-a; com os discípulos que o seguiam, praticou a esmola.. A
Bem-aventurança da pobreza que proclamou não significa, pois, absolutamente,
que os cristãos podem desinteressar-se dos pobres desprovidos do necessário à
vida humana neste mundo. Fruto e consequência do pecado dos homens e da sua
fragilidade natural, essa miséria é um mal de que é preciso, tanto quanto
possível, libertar os seres humanos.
O amor preferencial pelos pobres
68. Sob as suas múltiplas formas – extrema privação material, opressão
injusta, enfermidades físicas e psíquicas e, por fim, a morte – a miséria
humana é o sinal manifesto da condição nativa de fraqueza na qual o homem se
encontra após o primeiro pecado e da necessidade de uma salvação. É por isso
que ela atrai a compaixão de Cristo Salvador, que quis assumi-la sobre si,identificando-se
com os « mais pequeninos entre os seus irmãos » (Mt 25, 40. 45). É
também por isso que todos aqueles que ela atinge são objeto de um amor
preferencial por parte da Igreja que, desde as suas origens, apesar das falhas
de muitos dos seus membros, não deixou nunca de se esforçar por aliviá-los,
defendê-los e libertá-los. Ela o faz através de inúmeras obras de beneficência,
que continuam a ser, sempre e por toda a parte, indispensáveis. Depois,
através da sua doutrina social que se esforça por aplicar, ela procurou
promover mudanças estruturais na sociedade, a fim de se alcançar condições de
vida dignas da pessoa humana.
Pelo desapego das riquezas, que possibilita a partilha e abre ao Reino, os
discípulos de Jesus testemunham; através do amor aos pobres e aos infelizes, o
próprio amor do Pai, que se manifestou no Salvador. Esse amor vem de Deus e
leva a Deus. Os discípulos de Cristo sempre reconheceram nos dons depositados
sobre o altar um dom oferecido ao próprio Deus.
Amando os pobres, enfim, a Igreja testemunha a dignidade do homem. Ela
afirma claramente que este vale mais pelo que é do que pelo que possui. Ela
testemunha que essa dignidade não pode ser destruída, seja qual for a situação
de miséria, de desprezo, de rejeição e de impotência a que o homem foi
reduzido. Ela mostra-se solidária com aqueles que não contam para uma sociedade
da qual se veem espiritual e às vezes até mesmo fisicamente rejeitados. De modo
particular, a Igreja volta-se com afeto materno para os filhos que, por causa
da maldade humana, nunca virão à luz, como também para as pessoas idosas, sós
ou abandonadas.
A opção privilegiada pelos pobres, longe de ser um sinal de
particularismo ou de sectarismo, manifesta a universalidade do ser e da missão da
Igreja. Tal opção não é exclusiva nem excludente.
É por essa razão que a Igreja não pode exprimi-la com a ajuda de
categorias sociológicas e ideológicas redutoras, que fariam de tal preferência
uma opção partidária e de natureza conflitiva.
Comunidades de base e movimentos eclesiais
69. As novas comunidades de base e outros grupos de cristãos, formados
para serem testemunhas deste amor evangélico, são um motivo de grande esperança
para a Igreja. Se viverem verdadeiramente em unidade com a Igreja local e a
Igreja universal, serão uma autêntica expressão da comunhão e um meio de se
construir uma comunhão mais profunda. Serão fiéis à sua missão na medida
em que tiverem o cuidado de educar os seus membros na integralidade da fé
cristã, pela escuta da Palavra de Deus, pela fidelidade ao ensinamento do
Magistério, à ordem hierárquica da Igreja e à vida sacramental. Sob tais
condições, sua experiência, radicada em um empenho pela libertação integral do
homem, torna-se uma riqueza para a Igreja inteira.
A reflexão teológica
70. De maneira semelhante, uma reflexão teológica desenvolvida a partir
de uma experiência particular pode constituir uma contribuição muito positiva,
já que permite pôr em evidência aspectos da Palavra de Deus cuja riqueza total
ainda não tinha sido plenamente percebida. Mas para que tal reflexão seja
verdadeiramente uma leitura da Escritura e não uma projeção sobre a Palavra de
Deus de um sentido que ela não contém, o teólogo estará atento a interpretar a
experiência, da qual ele parte, à luz da tradição e da experiência da própria
Igreja. Essa experiência da Igreja brilha, com uma luminosidade singular e em
toda a sua pureza, na vida dos santos. Compete aos Pastores da Igreja, em
comunhão com o Sucessor de Pedro, discernir a autenticidade de tais
experiências.
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